segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Era uma vez uma casa, num sábado de inverno

Num sábado friorento o sobrado da Tijuca, sede do Instituto Tear, recebeu moças e moços embrulhados em seus casacos para o início do curso de Arte na Educação Infantil. Da cozinha, onde eu aguardava o início do meu curso, Linguagens da Arte na Educação, ouvia as vozes entoando uma canção, marcada pelo compasso do tambor. Os minutos foram passando e eu ainda era a única componente da minha turma, então fui convidada a participar do outro grupo. Entrei na sala e todos caminhavam em círculos, o tambor ditando o ritmo enquanto muitas meninas e dois meninos, ainda tímidos, cruzavam seus passos.
Misturei-me a eles e caminhei pela sala até que, súbito, fez-se silêncio. Maria Clara, a Cacá, sugeria que nos apresentássemos aos outros, divididos em grupos. E então me vi cercada de professoras sorridentes, muito parecidas em suas histórias e com muita vontade de estar ali. Éramos iguais, quer fôssemos formandas, estudantes ou profissionais de alguns anos de carreira, em nossa vivência diária com crianças ou com absoluta inexperiência com o universo infantil.
Divididos em pares, ocupamos o chão e apresentamo-nos uns aos outros. A mim coube apresentar Juju, estagiária da casa, atriz, estudante de Educação física e bailarina do espetáculo Marias Brasilianas que conseguiu facilmente falar de mim, estudante de Comunicação Social, fazendo-me parte do grupo também.

Das peripécias de um barbante

Assim que nos conhecemos um pouco, eis que surge um barbante, nas mãos de Cacá e então a tarefa de transformá-lo em coisas diferentes por cada um de nós. E o barbante virou como mágica bolsa, cordão, laço de fita, bailarina de pernas compridas, cinto e corda de pular ou asas para voar em poucos segundos. Mas era pouco. Cabia-nos agora o exercício de pensar coletivamente criando uma história com ele, o barbante.
E surgiu no centro da sala um menino, indo pra escola com sua bolsa, o cordãozinho mágico de tantos usos levando seu cachorro a passear, no balanço com uma menina, mochila onde guardava sua merenda ou surgindo de repente como um balão no céu ou uma poça no chão.
Olhamos então e nos risos de todos o menino já dormia em sua cama finalizando a brincadeira. No centro da roda havia uma caixa e dentro dela muitos pedaços de madeira pra construir uma grande torre, peça por peça. Viramos crianças, cada um torcendo para que a peça colocada sustentasse o peso das outras chegando cada vez mais alto. E foi num movimento súbito, tal e qual bolha de sabão, que a torre veio ao chão fazendo o grupo dar muitas risadas.

Hora do DVD

Logo depois era hora do vídeo e nos espalhamos em uma sala assistindo ao DVD onde crianças, em meio a muita diversão, criavam um blog sobre brincadeiras antigas, entrevistando com competência e naturalidade donos de lojas de brinquedos, professores e alunos de outras escolas que deram sua opinião sobre o assunto.
O friozinho do dia, o fato de estarmos em redor de uma televisão e o todo do aconchego da casa provocaram em mim e acredito não ter sido a única, uma enorme sensação de retorno à infância. A criatividade e a imaginação tanto tempo esquecidas já esticavam as pernas e pediam por mais exercício.
Descemos as belas escadas de mármore e lemos um pouco sobre o conceito de brincadeira, pontuando a leitura com as observações de cada um sobre o texto. Como na escola, enfim chegou a hora do lanche e nos reunimos na cozinha em torno de uma mesa comprida , biscoitos surgindo das bolsas e o café quentinho na garrafa térmica.A cada segundo esperava que fosse surgir uma avó sorridente sobraçando um tabuleiro de bolo, tamanha era a sensação de estar em casa .

Construindo torres

Voltamos à sala e a caixa de pedaços de madeira nos aguardava, de onde tínhamos que retirar peças para criar desafios uns para os outros. Pela primeira vez não senti na palavra o efeito aterrorizante do verbo desafiar, comprendi-a como uma sugestão onde valia o sentido de participar, estar integrado, e onde não haveria vencedores além de todos os participantes. Três grupos montaram suas peças e nos revezamos em jogos de boliche, “ziguezagueando” entre blocos de madeira e bancos, rastejando por baixo de cordas, fingindo escavar paredes ou dando cambalhotas no chão. No final, bem ou mal sucedidos, todos éramos recebidos por vivas e gargalhadas.

Brincando de casinha

Aproveitamos a trégua do tempo chuvoso e fomos ao quintal buscar material para montar ambientes onde as crianças brincarem, mercado, escola e casinha, conforme o grupo. Crianças nos tornamos todos, imaginando cada elemento de nosso pequeno universo, transformando tampinhas em dinheiro, pedaços de papelão em caminhas onde nos deitamos e disputando alegremente brinquedos ante o olhar das “professoras" da escolinha.
E a corda por baixo de onde passamos tinha mesmo que ocupar seu lugar para que pulassem as mais corajosas sob o coro da musiquinha: " um homem bateu na minha porta e eu abri, senhoras e senhores ponham a mão no chão..."


Gostinho de quero mais

De volta finalmente à sala, terminamos o texto e falamos cada um de nossas impressões, recordando nossas próprias brincadeiras. E na nossa frente surgimos todos descendo encostas em pedaços de papelão, brincando de elefantinho colorido, pique-alto, mamãe na rua, pique-bandeira e esconde-esconde, nos dividindo entre polícia e ladrão e questionando o porquê mesmo de nossas mães não nos deixarem brincar de carniça .
Despedimo-nos ali, não sem antes sermos recebidas gentilmente por Denise,também fundadora do Instituto Tear, que nos avisou que agora fazíamos parte da casa, algo que com certeza já sentíamos em grande maioria. Afinal não corrêramos, puláramos corda, voáramos pela sala em asas de barbante ou dentro de um balão, construindo torres tão altas quanto pôde chegar nossa imaginação?Agora nos resta esperar pelo próximo sábado e saber onde esta irá nos levar.

2 comentários:

  1. Coisa linda seu relato Tati!!!
    Amei! Até gostei mais da minha aula depois dele!
    Beijos,
    Cacá

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  2. Que bom que você gostou,Cacá!E eu gostei muito da aula também!O texto reflete minhas impressões..Agora resta esperar sábado para novas brincadeiras..rs..muitos heijos

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